Sinto falta de uma discussão mais profunda sobre como a imprensa tem abordado o caso da menina Isabella Nardoni. Tirando alguns programas de televisão que transformaram o caso em um show para ser explorado de todas as formas, criando cenários no palco, jornalistas discutindo e remoendo informações e apelos até para o presidente da República (acreditem!), a falta que sinto é de uma discussão sobre telejornais que até então considero bons, mas que realmente tem abusado do caso.
É fato que é um caso que causou comoção nacional. Mas será que merece todo esse destaque na mídia? Não sei se perceberam, mas a dengue no Rio de Janeiro continua grave, continua matando (o número de mortos subiu para 90, acredito que já podemos dizer que é a maior epidemia da doença no estado) e a imprensa simplesmente deixou de lado esse assunto.
No último domingo, o 'Fantástico' levou ao ar uma entrevista do jornalista Valmir Salaro com os principais suspeitos do assassinato da criança, o pai Alexandre Nardoni e a madrasta Ana Carolina Jatobá. Com isso, fez antes, matérias e mais matérias de desdobramento do caso, criando até um cenário virtual, onde o repórter Rodrigo Bocardi andava pelo estúdio simulando o apartamento do casal e os passos de como a menina tinha sido violentada.
Esse é apenas um exemplo de como vem sido noticiado.
Agora vem a pergunta:
MERECE ISSO TUDO?
Enfim, acho que esse é um caso que merece uma discussão e nós como estudantes de jornalismo deveríamos pensar e analisar como os meios de comunicação abordam determinados acontecimentos. Pois se existe hoje uma preocupação em geral de todas as pessoas em torno desse caso, é com certeza por parte (se não, tudo) da imprensa.
Abro esse espaço para discussões!!!!!
Postado por Bruno Meier
Campus Downtown
terça-feira, 22 de abril de 2008
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13 comentários:
Primeiramente eu gostaria de saber quem assina este post. Sugiro que os alunos, ao postarem, assinem seus nomes e campi onde estudam.
Sobre o tema em questão, eu acho que a abordagem tem sido merecida. O caso da menina é um absurdo e acho que todo o país se sensibilizou com esse caso. Não podemos dizer que ela "é só mais uma...". Realmente ela é só mais uma criança a ser violentada e agredida covardemente, mas temos que entender que a maioria dos casos não é denunciado e continuam acontecendo. A abordagem do caso da Isa atenta para a questão da denúncia. Depois do caso dela, eu tenho assistido uma campanha muito maior para que as pessoas denunciem este tipo de crime. E se não fosse essa abordagem (que segundo muitas pessoas é exagerada) da imprensa as coisas não teriam ganhado este rumo. A persistência dessa discussão, de matérias e mais matérias, entrevistas e mais entrevistas é necessária SIM para que as pessoas tenham a coinciência do ponto em que a sociedade está chegando: Pais matando filhos, filhos matando pais, onde já se viu? É o fim dos tempos. Foi uma agressão brutal, digna de uma discussão muito maior. Não podemos considerar a velha teoria de que "daqui a pouco as pessoas esquecem". Daqui a pouco as pessoas vão parar de falar com toda frequencia com que se fala atualmente, como um caso resolvido, como um decisão tomada e uma justiça mais ou menos feita. Mas esquecer, eu duvido. Quem aqui esqueceu da morte da jovem Gabriela na estação do metrô? Muita gente, não é mesmo? Mas quem aqui consegue se lembrar do caso quando vê alguém com a blusa "Gabriela sou da paz"? Todos. É justamente isso que gostaria que acontecesse com o caso Isabella. Não sei se o "Gabriela sou da paz" é uma ONG ou um projeto, mas sei que ajuda muita gente. Pode não nso ajudar, porque no momento, graças à Deus, nunca precisamos. Mas e no futuro? Alguém aqui sabe do futuro?
O "estardalhaço" é necessário sim. E está acontecendo muito aquém do necessário. É fato que a imprensa se utiliza de casos como esse para fortalecer a audiência, mas é considerável também que, em certos momentos, isso é necessário para atentar a sociedade. Devemos considerar também que as expectativas do público sobre a descoberta do assassino ou assassina da menina fortalecem as investigações. A pessoa tem que ser descoberta sim e a sociedade cobra isso com sua audiência.
É um bom tema de monografia para nós do último período. O material está aí, tem até demais!
Mariana Miranda
Campus Piedade
É um caso delicado. O problema é que a imprensa (sim, porque estamos falando de uma instituição formadora de opinião) transformou o crime em espetáculo. E se chegou a ese ponto uma parcela generosa de culpa é da imprensa.
Também não podemos simplesmente aceitar a morte de Isabella como mais uma. Foi um crime brutal, e o que mais revolta a população é o fato de o pai e a madrasta serem os principais suspeitos. E já que a justiça em nosso país é considerada lenta, nada melhor do que a imprensa para fazer barulho. Por mais frios que sejam, se eles realmente forem culpados, não vão suportar a pressão desse veredicto popular por muito tempo.
É claro que tudo tem que ser medido. A imprensa está certa, mas peca no exagero sim. Não considero exagero mostrar insistentemente o caso. Considero sensacionalismo a maneira como ele é abordado por alguns veículos. Vale lembrar que o papel do jornalista é informar a verdade dos fatos.
Luana Marino
Campus Piedade
Mariana, quem assinou o post a que você se refere foi o Bruno Meier, do campus Barra.
Acho que Bruno não quis dizer que a imprensa não deva dar atenção ao caso. O problema é que temos lido/ouvido/assistido longas matérias com informações repetidas há dias. Parece-me que a imprensa está, sim, exagerando na dose. A abordagem do caso, por sua vez, a meu ver está longe de ser capaz de provocar um efeito benéfico para a sociedade. Outro dia escutei de um professor que agora as mães ficarão com medo de mandar as filhas de pais separados passarem os fins de semana com seus pais e madrastas. Era só o que faltava...
E o que são esses plantões de jornalistas na porta da casa de tudo que é parente da menina morta?
Paranóia, pânico, ódio - é só o que tenho visto a cobertura do caso provocar. Está demais.
Tem uma discussão interessante sobre o caso no Observatório da Imprensa, em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=481JDB015
Larissa
(...) Já faz um tempinho eu vi uma charge onde uma tv é jogada de cima de um prédio depois de anunciar: "mais notícias sobre o caso Isabella..." Globo e Record tem travado uma disputa acirrada na cobertura do caso. Para ser sincero, não agüento mais!! Minha crítica é direcionada a "forma" como está sendo noticiado. O RJ Record (canal próprio do Rio) tem me cansado e estou evitando a televisão. Acontece que eles estam com aquele modelo de jornalismo do Datena e do Wagner Montes (os repórteres ainda fazem as matérias, só que elas são comentadas pelo âncora). É extremamente insuportável! As informações são repetidas como se não houvéssemos entendido o que disse o repórter. O apresentador não acrescenta nenhum dado, "mastiga" tudo e outra vez e ainda diz: "pra você que ligou na Record agora..." e fala tudo de novo. Meu Deus!! Imagino, pra quem realmente ligou na Record "agora" é uma boa ficar sabendo do que se fala, mas e quem está querendo saber mais sobre o assunto? Principalmente sendo de imensa relevância. Estou insatisfeito, evitarei os tele-jornais o máximo possível.
Maxsuel Siqueira
Campus Downtown
Gostaria de saber o que a Luana e o Maxuel querem dizer com "a forma" de abordagem. Seria o fato do caso ser notícia nos telejornais de todos os canais e horários?
Gostei de entrar no blog e ver alguns comentários refente o assunto.
Esse tema merece muita discussão.
Valeu Mariana por ter dado o primeiro pitaco! Mas discordo com você em alguns pontos. Não acho que abordagem tem atentado para o caso de denúncia e que a partir daí vão crescer o número de denúncias contra esse tipo de crime.
Duvido que a produção da Luciana Gimenez está sentada agora, batendo a cabeça, procurando novas informações, pois eles querem denunciar um crime brutal e fazer com que as pessoas denunciem. Pelo contrário!! Como viram que o caso chamou a atenção, cada um agora quer tirar uma casquinha para conquistar um décimo de audiência a mais. O que temos visto em alguns canais é vergonhoso em termos de abordagem jornalística. Nem gostaria de comentar sobre o Superpop, pois eles chegaram ao extremo, mas de telejornais das grandes emissoras que também abusam na cobertura. Alguns repórteres, por exemplo, entram ao vivo na frente da casa da família sem trazer uma informação nova, sem acrescentar algo de novo ao telejornal. Parece às vezes que a intenção é explorar e explorar de todas as formas o caso.
Achei muito interessante o texto que saiu no Observatório da Imprensa, que a prof. Larissa indicou.
Hoje saiu um comentário da coluna 'Canal 1' da Tribuna da Imprensa. Merece ser lido:
Sensacionalismo idiota
Perdoem a falta de jeito e a pouca paciência em tratar a irresponsabilidade que ainda se observa em torno do caso da menina Isabella. Os aproveitadores de plantão não desistem. O "Superpop" da Luciana Gimenez resolveu tratar o tema com requintes de crueldade. Os seus responsáveis tiveram a capacidade de montar no palco um cenário, réplica do apartamento onde aconteceu a tragédia. Não se esqueceram nem mesmo as camas e a rede na janela. Uma coisa chocante.
Tudo isso para, mais uma vez, reunir determinados senhores, que durante duas horas e tanto se pegaram em torno do assunto. Como se observa, não há limite para mais nada. Tudo pode e é permitido em troca de alguns pontos a mais de audiência, como se a morte de Isabella fosse a única e última grande tragédia neste País nos últimos tempos. Nem o terremoto da terça-feira mereceu tanto sensacionalismo, espaço, importância ou consideração. Foi só um terremotozinho...
Dados importantes
Se alguém ainda não sabe:
- Uma criança menor de um ano é assassinada por dia no Brasil, vítima de violência. Pior: os autores da barbárie, na maioria das vezes, são os próprios pais.
- Os números são do Ministério da Saúde e do Instituto de Psiquiatria Forense do Hospital das Clínicas de São Paulo.
- Isso significa que desde a morte de Isabella Nardoni, dia 29 de março, 24 crianças foram mortas no Brasil em situações parecidas.
Bruno Meier
Downtown
Oi Mariana!!
Escolhi o RJ Record (ou algo assim) como exemplo específico porque tenho acompanhado o caso através dele. Minha insatisfação está mais no modelo cansativo do jornal (como falei no comentário anterior) do que na quantidade de vezes que vejo o tema da morte da Isabella ser tratado. Não há novos dados, novas informações e quando surge alguma coisa, ainda que incerta, eles reprocessam tudo o que já foi dito. Além de que - querendo ou não - propõe mais PRÉ-julgamentos, que não é a função primeira da imprensa, relatar para propôr a discussão, a reflexão... Agindo dessa forma ela acaba mais alimentando o lado mais hostil do seu público, talvez até "atrapalhando" na investigação do caso. Aquele velho princípio do Direito: "todo réu é inoscente até que se prove o contrário." A grande mídia não pode acompanhar um caso como esses já pré-determinando quem é culpado pelo quê... Cabe a ela relatar e julgar ao judiciário. Mas e quando se fala que notícia ruim vende mais? Acho que aí já tem a ver com o nível cultural brasileiro.
Outra coisa, só pra falar que é claro que os meios de comunicação se alimentam de "audiência". Até aí não há nada a dizer sobre realizar determinados programas com presença de autoridades, psicólogos, cidadãos-comuns... ou ainda fazer determinadas reportagens, debates e outras coisas mais. Isso sempre vai existir. As emissoras - os jornais, as revistas, o sites - como qualquer empresa, buscam o lucro em primeiro lugar. O que me desanima é a forma apelativa com que algumas mídias buscam isso. Também gostei do link que a Larissa deixou. Bem reflexivo... É bom dá uma olhada, vai ajudar pra gente pensar sobre este caso e evitar situações semelhantes no futuro.
Gostaria de saber pq dois comentários foram excluídos.
Aproveito para parabenizar o Maxuel e o Bruno pela proveitosa discussão. Os argumentos são extremamente convincentes e os textos muito bem escritos.
=D
Ihhh!!
Também não sei, deve ter sido o próprio Bruno. Às vezes a gente quer mudar alguma coisa no comentário e acaba apagando para reescrever. Já fiz algumas vezes! Também gostei do debate. Mas gostaria que mais pessoas tivessem participado, já que não somos os únicos da disciplina.
Maxsuel
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