sexta-feira, 30 de maio de 2008

Fotógrafo faz fotografia...


Aconteceu agora há pouco, na Gama Filho (Piedade), prédio MR - 8º andar, o debate sobre o documentário “Abaixando a Máquina: ética e dor no fotojornalismo carioca”. Nosso amigo Felipe fez o convite e fui lá conferir. Sem querer discutir a estética do filme - acho que não é o propósito - o curta retrata o dia-a-dia de fotojornalistas de grandes jornais do Rio de Janeiro. Fieis a realidade, as cenas mostram como esses profissionais enfrentam a violência na busca pela notícia. Ética, emoção, risco, imparcialidade, ação, respeito... Que questões entram jogo na hora de decidir "apertar o dedo" ou abaixar a máquina? O debate foi mediado pelo professor Marcus Vini e estavam lá Guillermo Planel (diretor) e Renato de Paula (jornalista) – idealizadores do projeto -, Marcos Tristão (O Globo), Rogério Reis (ex-editor do JB), Alexandre Brum (O Dia) e Berg Silva (O Globo).

E vamos ao debate

Quando questionado sobre a idéia de que todo cidadão é um repórter, Rogério dá o pitaco inicial falando que a grande diferença entre o profissional e o amador é o “olho treinado”. Ele explica como a democratização da imagem através das facilidades tecnológicas (celulares, câmeras digitais...) proporcionou a maior participação dos meros mortais na cobertura de eventos. “Isso é bom por um lado, porque aumenta a produção de material (o jornalista não pode estar em todos os lugares), mas por outro, traz muita coisa de má qualidade, muita coisa ruim”, acrescenta.

Berg cita o fato do garoto que tirou fotos de duas radiopatrulhas do 3° Batalhão da PM (Méier) com as malas abertas perto do caminhão da Ambev (o caso das cervejas), que foi saqueado por moradores e contou com a participação e a cumplicidade dos PMs. Ele as vendeu para o jornal e, dias depois, o então Comandante Ubiratan foi demitido do cargo. “A partir daquele momento o rapaz pôs em risco sua própria segurança. O jornal não tem compromisso com ele como tem comigo. Tenho seguro de vida e outros meios de proteção. É meu trabalho”.

Renato discorda porque encherga o cidadão-repórter como uma forma de democratização da informação.

Sobre o fato de que somos a imprensa que mais destaca a violência urbana todos concordam com a seguinte idéia: “só há produto, se houver demanda”.

Guillermo acha que não é mostrado nem 5% do acontece no Rio de Janeiro. “Se não for divulgado, voltaremos à época do Médici em que ele assistia à TV e dizia: O Brasil está uma maravilha. A violência já chegou na porta classe média (cita o caso do engenheiro que foi morto há pouco), por isso maior preocupação. Não podemos viver alienados somente achando que o Rio é maravilhoso”, afirma.

“Acabamos de confirmar a verdade. O Rio é violento porque sempre foi governado pela máfia. O Comandante da polícia era o chefão do crime. O problema sempre esteve na corrupção de nossos governantes”, alfineta Berg.

Ninguém melhor que o próprio editor para falar disso: “há vários critérios para selecionar o que vai ser publicado. Há questões complexas que envolvem opinião pública, interesses econômicos e ideológicos, interesses políticos... Existe uma grande preocupação dos jornais cariocas com a violência porque ela ocorre em alto grau na sociedade. A imprensa do Rio apenas relata um pouco do que acontece por aí. Ela não está no jornal, está nas ruas. Vem de fora pra dentro das redações. Imoral é a realidade, não os jornais”.

O diretor do filme fala ainda que aos poucos os assuntos mais fortes vão sendo substituídos pelos mais banais. “É um processo de erotização da notícia, de apelo sexual mesmo. O Meia-hora e o Expresso surgiram como espaço para aquilo que não podia ser publicado nos outros. Por isso as ‘mulheres-fruta’ invadem os jornais”.

A foto acima (mãe chorando) também foi um dos principais assuntos tratados. Marcos Tristão, fotógrafo do O Globo, recebeu até premiações por ela e elogios também. É esse o tal ‘olho treinado’ de que falou Rogério”, afirmou Ricardo de Hollanda, Coordenador do curso de Comunicação Social da Gama. “A pulseira com a bandeira do Brasil ali no pulso e as lágrimas grossas escorrendo como sinal de grande sofrimento comovem a qualquer um. O fotógrafo precisa ter sensibilidade para perceber essas sutilezas simbólicas”.

O caso Tim Lopes - que faz seis anos na próxima segunda (02/06/2002) - também foi pautado. Debatemos sobre os possíveis erros que levaram à morte do jornalista. Falamos ainda sobre algumas medidas de segurança que começam a ser implantadas, como o uso de coletes a prova de balas, capacetes... O debate chegou ao fim com aquelas hitorinhas de início de carreira, os primeiros micos, os tempos de foca... Alexandre fechou contando como conseguiu estágio no Jornal O Povo, depois de muita insistência e como anda sua carreira hoje como Fotógrafo do Jornal O Dia.

"Uma aula viva", como disse nosso Coordenador. Ele acredita que para o segundo semestre será necessário melhorar a integração entre os Campus. "Downtown anda um pouco afastado dos eventos que têm ocorrido na faculdade e isso será trabalhado no segundo semestre.

Maxsuel Siqueira
Campus Downtown




3 comentários:

Futuros jornalistas disse...

Queria saber quem postou esse texto. Deve ter sido legal demais o debate. Larissa

Cultuarte disse...

Também gostaria de saber quem postou esse texto. Adoraria ter ido nesse debate, porque tenho grande interesse pelo fotojornalismo. É uma pena que não tenha sido divulgado na unidade Downtown. Contudo, quem publicou o post deu uma boa idéia do que aconteceu e citou partes do debate muito interessantes. Paloma Alves.

Futuros jornalistas disse...

Oi pessoal, desculpas!!

Postei e tive de editar depois... Agora ficou redondinho! rs Foi uma aula riquíssima.

Obg,

Maxsuel

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